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Quando vale alugar uma franquia?
Redes como a Chilli Beans oferecem formatos de loja para locação com valor até 60% menor que o de compra. Bom para o empreendedor que quer testar afinidade com o modelo de negócio.
Formatos de franquias para se investir não faltam. Hoje em dia é possível até alugar um modelo de negócio, como a loja modular estruturada em um contêiner da marca Chilli Beans.
Para aumentar a capilaridade em cidades de 60 a 90 mil habitantes e chegar a locais de grande circulação, como postos de gasolina, parques e praças, a rede especializada em óculos escuros passa a oferecer ao empreendedor a opção de operar este tipo de unidade como locação.
Batizado de Eco Chilli, por ser construído com pegada sustentável e reutilizando resíduos plásticos retirados do oceano, o modelo móvel pode ser alugado por cerca de R$ 90 mil, pagos à vista ou parcelado em 60 vezes. O valor é 60% menor que o de compra, segundo a rede.
O modelo também funciona como porta de entrada para quem quer empreender, segundo o gerente de expansão Eduardo Félix, que reforça que o contêiner levará a marca até onde o consumidor está, mas com maior facilidade de operação e pagamento a custo reduzido.
“Estamos sempre inovando, não apenas em produtos e formatos de pontos de venda, mas na facilidade de fazer negócios e oportunidades geradas para os empreendedores”, destaca.
A estratégia tem destino certo: estudo da Associação Brasileira de Franchising (ABF) divulgado em agosto último avaliou o perfil dos potenciais investidores em franquias, e apontou que a maioria, 39%, são empreendedores iniciantes de 30 a 40 anos. Com o investimento, vindo de capital próprio ou financiamento, buscam independência financeira ou alavancagem de renda.
De olho nesse perfil, o formato de locação parece feito sob medida para quem quer começar a ser dono do próprio negócio. E a Chilli Beans tem apostado forte nisso. Hoje, há 50 Eco Chillis em operação, sendo que a previsão é chegar a 100 unidades até o final deste ano. A rede também projeta abrir 400 lojas móveis do tipo nos próximos três anos.
Mas o aluguel em franquias não é necessariamente novo. O grande negócio do McDonald’s no mundo inteiro é locar e sublocar imóveis aos franqueados, diz o especialista em franquias Marcelo Cherto, CEO da Cherto Consultoria. “A gente sempre brincou que o McDonald’s não é uma rede de lanchonetes, é uma ‘grande imobiliária'”, diz.
Ele cita outros exemplos, como a Subway, que tem uma empresa de leasing em sua estrutura nos Estados Unidos, que loca os apetrechos necessários para montar uma loja da marca, como fritadeiras, freezers ou fornos.
E ainda, aqui no Brasil, as vending machines, locadas para franqueados pela própria franqueadora. Ou franquias de academia de ginástica, que alugam equipamentos como esteiras e bicicletas de spinning para os franqueados operarem.
“Além de realmente reduzir o custo de entrada para um franqueado no negócio, tem um segundo aspecto que é gerar uma fonte de receita adicional para a franqueadora ou alguma empresa ligada a ela”, afirma. “Então, mesmo não sendo uma coisa tão nova, eu entendo que é extremamente interessante para as duas partes”, completa Cherto.
‘ESTÁGIO’ EM FRANCHISING
Para quem quer empreender, vale a análise: mesmo o franchising sendo um modelo consolidado e padronizado, que abre pouca margem para erro no dia a dia da operação, há pontos positivos e outros de atenção quando a ideia é investir no aluguel de franquias.
No caso da Chilli Beans, a opção é locação pura e simples. Ao chegar ao final do contrato, basta renovar ou encerrar. Mas pode existir a opção de arrendamento, diz a advogada especializada em franquias Marina Nascimbem Bechtejew Richter, sócia da NB Advogados.
Nesse caso, após o período de uso do espaço em troca de pagamento e exploração do negócio, quando se torna responsável por manutenção e despesas, o franqueado teria a opção de comprar esse bem. Porém, isso faz mais sentido quando há franqueados querendo se desfazer da operação, como impossibilidade de operá-lo ou mudança de cidade, por exemplo.
“É uma alternativa para trazer quem não tem todo aquele capital para adquirir uma franquia, e também para a franqueadora que quer expandir, mas não quer abrir operação própria”, diz a advogada.
Além de ser um modelo mais econômico, o aluguel também permite ao futuro franqueado ter a certeza de que estará investindo no negócio certo. “Não tem o custo do investimento inicial. E, se não der certo, acabou, devolve”, completa a advogada.
Ou seja, ao invés de imobilizar um valor muito grande, não só da taxa de franquia, mas de busca por um ponto e sua reforma, o aluguel permite ao franqueado testar o modelo e o produto no qual quer investir, diz Adriano Gomes, sócio-diretor da Methode Consultoria.
Isso implica saber se esse empreendedor vai se adaptar a vender esse produto, a lidar com o público-alvo, e a entender de precificação, de margem de lucro e de tributação.
Mas também conhecer o comportamento do consumidor e seus hábitos de consumo, a desvendar como compram ou se pagam à vista ou no crédito, entre outros pontos, explica o especialista.
“Ainda que tenha capital próprio, se jogar diretamente numa franquia para depois sair é mais complicado”, diz. “Acho o modelo superinteressante: além de uma série de vantagens que a marca está promovendo, o empreendedor pode fazer um belíssimo estágio como futuro franqueado.”
PROPORCIONALIDADE
Quem pretende seguir o plano de alugar uma franquia deve passar pelo processo normal que passa um novo franqueado: além das análises iniciais de ambas as partes, para decidir se o contrato será assinado e dar andamento ao negócio, ele deve receber a Circular de Oferta de Franquias (COF) com 10 dias de antecedência, segundo a advogada Marina Richter.
Também deve receber o contrato que prevê as obrigações entre as partes, prazo de duração, informações sobre taxas, marcas e direitos de uso e da locação em si.
Ela reforça que quando se fala de um aluguel, ao invés de um investimento inicial, o novo franqueado não precisa investir aquele volume de dinheiro de uma vez. Mas, por outro lado, é importante provisionar o montante a pagar no dia a dia da operação.
“É interessante até fazer um plano para avaliar se esse valor, que seria um pouco mais alto, se encaixaria, ou qual seria o prazo mínimo para ficar com a franquia, por exemplo”, explica.
Do lado da franqueadora, também é importante ter atenção e dar um tratamento isonômico para a rede como um todo. Além do suporte à operação, é importante oferecer a possibilidade de alugar também para um ou outro franqueado que já opera com a marca.
Não adianta oferecer para um ou dois franqueados, enquanto o restante teria que gastar mais dinheiro para montar uma unidade do zero. Mas isso não quer dizer, por exemplo, que é preciso tratar um franqueado inadimplente da mesma forma que um adimplente, diz a advogada.
“Se a rede tem um franqueado investidor, com 40 lojas, e outro com apenas uma, há justificativa para oferecer ao primeiro por mostrar que já confiou na marca em diversas oportunidades”, afirma Marina. “É sobre esse cuidado que eu falo: para tratar os franqueados de forma isonômica, e assim evitar eventuais problemas futuros para ambas as partes.”